The China Mail - Moradores realizam desminagem na Ucrânia por conta própria

USD -
AED 3.672503
AFN 66.502261
ALL 83.526602
AMD 382.09034
ANG 1.789982
AOA 917.000023
ARS 1408.524403
AUD 1.528561
AWG 1.8075
AZN 1.70015
BAM 1.68937
BBD 2.014244
BDT 122.111228
BGN 1.687885
BHD 0.376994
BIF 2951.282716
BMD 1
BND 1.30343
BOB 6.910223
BRL 5.295399
BSD 1.000082
BTN 88.671219
BWP 14.25758
BYN 3.410338
BYR 19600
BZD 2.011289
CAD 1.39978
CDF 2200.000266
CHF 0.79709
CLF 0.023807
CLP 933.949837
CNY 7.11965
CNH 7.11187
COP 3707.01
CRC 502.36889
CUC 1
CUP 26.5
CVE 95.243648
CZK 20.901997
DJF 177.719536
DKK 6.441401
DOP 64.350898
DZD 130.385995
EGP 47.1997
ERN 15
ETB 154.829729
EUR 0.86254
FJD 2.27645
FKP 0.75922
GBP 0.761045
GEL 2.704965
GGP 0.75922
GHS 10.956112
GIP 0.75922
GMD 73.49843
GNF 8680.892966
GTQ 7.664334
GYD 209.232018
HKD 7.77032
HNL 26.309584
HRK 6.500094
HTG 130.904411
HUF 331.608017
IDR 16742
ILS 3.20022
IMP 0.75922
INR 88.602503
IQD 1310.080633
IRR 42112.505659
ISK 126.789947
JEP 0.75922
JMD 160.817476
JOD 0.709001
JPY 154.582013
KES 129.150163
KGS 87.450236
KHR 4010.486173
KMF 421.000379
KPW 899.988373
KRW 1468.589969
KWD 0.30708
KYD 0.833377
KZT 524.809647
LAK 21709.142578
LBP 89556.406857
LKR 304.582734
LRD 182.514695
LSL 17.149126
LTL 2.95274
LVL 0.60489
LYD 5.457325
MAD 9.29326
MDL 16.941349
MGA 4488.151229
MKD 53.147795
MMK 2099.257186
MNT 3579.013865
MOP 8.005511
MRU 39.689388
MUR 45.869723
MVR 15.404961
MWK 1734.113033
MXN 18.30125
MYR 4.136503
MZN 63.950171
NAD 17.149126
NGN 1440.597935
NIO 36.805259
NOK 10.078845
NPR 141.874295
NZD 1.765425
OMR 0.384501
PAB 1.000073
PEN 3.369914
PGK 4.223856
PHP 59.1275
PKR 282.76778
PLN 3.65103
PYG 7057.035009
QAR 3.646077
RON 4.385101
RSD 101.064982
RUB 81.273635
RWF 1453.571737
SAR 3.750534
SBD 8.237372
SCR 14.171408
SDG 600.497158
SEK 9.44779
SGD 1.301685
SHP 0.750259
SLE 23.213532
SLL 20969.499529
SOS 570.520379
SRD 38.556496
STD 20697.981008
STN 21.162559
SVC 8.750858
SYP 11056.952587
SZL 17.143474
THB 32.354498
TJS 9.260569
TMT 3.5
TND 2.94953
TOP 2.342104
TRY 42.2346
TTD 6.781462
TWD 31.094994
TZS 2440.000057
UAH 42.073999
UGX 3625.244555
UYU 39.767991
UZS 11972.722129
VES 230.803903
VND 26355
VUV 122.202554
WST 2.815308
XAF 566.596269
XAG 0.018732
XAU 0.000238
XCD 2.70255
XCG 1.802343
XDR 0.704774
XOF 566.596269
XPF 103.013263
YER 238.500866
ZAR 17.08726
ZMK 9001.20111
ZMW 22.426266
ZWL 321.999592
Moradores realizam desminagem na Ucrânia por conta própria
Moradores realizam desminagem na Ucrânia por conta própria / foto: © AFP

Moradores realizam desminagem na Ucrânia por conta própria

"Havia muitas minas e vimos que nossos homens não tinham tempo para lidar conosco. Então, fizemos a desminagem com ancinhos", conta a agricultora Larisa Sisenko, como se fosse a opção mais óbvia.

Tamanho do texto:

Muitas pessoas arriscam suas vidas para limpar seus campos das toneladas de bombas e minas que permanecem adormecidas no leste da Ucrânia desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

Nesta área, "todos desminam por conta própria, absolutamente todos", diz outro agricultor, Igor Kniazev, perto da mina Larisa, a cerca de trinta quilômetros da linha de frente.

A Ucrânia costumava ser um dos celeiros do mundo, graças ao seu solo fértil e escuro.

Mas esses solos são agora provavelmente os mais contaminados do mundo, após 28 meses de conflito e um dilúvio de artilharia sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com especialistas consultados pela AFP.

Mais de 80 entidades — governamentais e não governamentais — trabalham para limpar as terras da Ucrânia. A comunidade internacional mobilizou 1 bilhão de dólares (5,4 bilhões de reais, na cotação atual).

Mas a tarefa é tão gigantesca que agricultores como Viktor e Larisa Sisenko, de 56 e 54 anos, frequentemente ignoram as instruções oficiais e tomam a iniciativa.

O casal foi um dos primeiros agricultores a retornar à sua fazenda em Kamianka, ocupada pelo Exército russo de março a setembro de 2022.

Duas semanas após a contraofensiva ucraniana, os Sisenko realizaram um reconhecimento inicial: sem água nem eletricidade, a casa estava inabitável.

Os dois esperaram o inverno do norte passar e retornaram em março de 2023. Limparam a casa, removeram as forcas sinistras instaladas pelos soldados russos em seu quintal, arrancaram ervas daninhas... e desminaram.

Havia caixas de munição russa empilhadas em frente à casa deles. "Calibres 152 mm (...). Servi na artilharia durante a era soviética, então entendo um pouco do assunto", enfatiza Viktor, com um sorriso sob o bigode.

- Pétala mortal -

Em meados de 2023, uma equipe da Fundação Suíça de Desminagem (FSD) desenterrou 54 minas PFM-1, provavelmente plantadas para proteger o canhão autopropulsado 2S3 Akatsia instalado pelo Exército russo em seu acampamento.

Esta mina antipessoal, fatal para crianças, explode sob uma pressão de cinco quilos ou mais e é proibida pela Convenção Internacional de Ottawa de 1997.

A Rússia nunca a ratificou. A Ucrânia a ratificou, mas recentemente se retirou do acordo, citando o uso "cínico" de minas antipessoal por seu inimigo.

A mina PFM-1, com 14 centímetros de comprimento e cinco centímetros de largura, camufla-se notavelmente bem em campos e florestas, com seu revestimento cáqui e formato de pétala, embora também seja conhecida como papagaio verde ou borboleta.

"Quando a equipe estava trabalhando, tivemos que evacuar a casa porque, de acordo com as regras, não podíamos ficar. Bem, obedecemos. A máquina de desminagem, aquela que faz muito barulho, veio e foi embora. Houve muitas explosões", explicam os Sisenkos.

Kamianka atualmente mantém a aparência de uma cidade fantasma com suas casas destruídas. Cerca de 40 pessoas retornaram, em comparação com as 1.200 de antes da guerra.

Muitos temem as minas, vários já pisaram em uma; "99% das vezes, 'pétalas'", garante Viktor.

Mas o trabalho voltou aos campos. Em aldeias vizinhas, "alguns agricultores construíram tratores especiais para desminar suas terras. E hoje eles já estão plantando trigo e girassol", garante o homem.

- Explosão de tratores -

Um deles é Mikola Pereverzev, de 49 anos, que controla remotamente seu trator em um campo em Korobchiné, perto de Kharkiv.

"Ele explodiu três vezes. Tivemos que comprar um novo; o primeiro estava irreparável. Mas finalmente conseguimos limpar 200 hectares de campos minados em dois meses", explica.

Nesta temporada, o plantio de girassol já está planejado.

É vital que os agricultores mantenham seus campos, sob o risco de perder seu principal capital.

"A produção de grãos caiu de 84 milhões de toneladas em 2021 para 56 milhões de toneladas" em 2024, disse o ministro da Política Agrária, Vitalii Koval, à AFP.

Essa queda fez com que os preços dos grãos subissem em todo o mundo.

"Na Ucrânia, existem 42 milhões de hectares de terras agrícolas. Em teoria, podemos cultivar 32 milhões de hectares", mas a "terra disponível, não contaminada e desocupada" equivale a "24 milhões de hectares", acrescenta.

Um quinto do território — 123.000 km2 — estava potencialmente contaminado no final de junho de 2025, de acordo com o Ministério da Política Agrária, uma área equivalente à da Nicarágua.

- A terra mais contaminada -

Ucrânia, o país mais contaminado do mundo pela guerra?

"Em termos da quantidade de bombas e projéteis não detonados, e a quantidade de minas no solo, provavelmente é assim", estima Paul Heslop, responsável da ONU para a luta contra minas na Ucrânia.

Como todos os especialistas, ele destaca a impossibilidade de obter números precisos em um país em guerra onde os mil quilômetros de frente e os territórios sob controle russo permanecem inacessíveis.

Mas, acrescenta: "Se calcularmos que pode haver entre 4 e 5 milhões de projéteis ou munições não detonadas e de 3 a 5 milhões de minas, potencialmente há 10 milhões de artefatos explosivos no solo" da Ucrânia.

No lado ucraniano, as minas antitanque foram frequentemente colocadas de forma apressada quando os tanques russos cruzaram a fronteira. Muitos dos planos de colocação foram perdidos.

Aos seus 59 anos, Pete Smith passou pelo Afeganistão e pelo Iraque. Ele lidera as 1.500 pessoas empregadas na Ucrânia pela HALO Trust e também acredita que nenhum lugar no mundo está tão afetado pela guerra.

Para medir a árdua tarefa da desminagem, basta se deslocar alguns centenas de metros além da exploração dos Sisenko.

Após dois anos de busca em uma parcela de 2,6 hectares, os desminadores da FSD encontraram um total de três restos de explosivos.

"A contaminação com metal era tão intensa que nossos detectores se tornaram inutilizáveis porque soavam constantemente", explica Tin, o chefe do projeto. Mas, após longas verificações, milhares de fragmentos de metal não se revelaram explosivos.

- Minas "saltadoras" -

Isso é precisamente o que exaspera Igor Kniazev, que administra a fazenda de seus pais em Dovguenké.

Este homem de olhos azuis e cabelo curto fala com a velocidade de uma metralhadora, principalmente sobre as ONGs: "Cada ano prometem: 'Amanhã, amanhã, faremos todos os campos'", reclama.

Então ele se virou sozinho: "Como? Peguei um detector de metais e desativei as minas".

Kniazev retomou sua exploração após a retirada russa em setembro de 2022. Ele desativou minas sozinhos em 10 hectares, restam 40, que espera completar em um ano.

Mas já conhece os riscos. "Estava dirigindo meu trator, meu ancinho tocou uma mina [antitanque] e explodiu", lembra.

Igor consertou seu trator, exceto o ancinho que ficou inutilizável, e continuou com sua tarefa. O homem não ficou ferido: "Tive sorte".

Mas outros não: "Aqui, dezenas já pisaram minas TM [antitanque]. Muitos dos nossos também já pisaram minas OZM".

Esta mina antipessoal da época soviética é muito temida. Apelidada de "saltadora", ela se projeta a um metro de altura, onde lança seus 2.400 fragmentos de metal até 40 metros ao seu redor.

Em sua garagem, Igor recicla restos de projéteis russos em tubulações. No solo, jaz uma carcaça vazia de uma bomba de fragmentação: "Vou fazer uma lâmpada com ela".

- De cabeleireira a desminadora -

Andrii Ilkiv é responsável por uma unidade de desativadores de minas do ministério do Interior na região de Kharkiv. Em 13 de setembro de 2022, uma mina antipessoal explodiu sob seu pé.

"Voltei ao trabalho aproximadamente quatro meses depois", com um prótese na perna esquerda, a partir do joelho.

O homem robusto e barbudo podia se candidatar a um trabalho de escritório por duas razões: sua deficiência e seus cinco filhos.

Mas "estou acostumado a este trabalho, eu gosto. E ficar em um escritório, isso não é pra mim", responde o interessado, que desativa minas desde 2007.

Mais ao sul de Kharkiv, a região de Mykolaiv, às margens do Mar Negro, também está entre as mais minadas do país.

Em um campo de Taminaré, Viktoria Shinkar corta uma nova faixa de grama de aproximadamente dois metros de largura, avançando um pouco mais em seu "corredor".

Oito horas por dia, com tesouras de poda, detector e uma pausa de 10 minutos a cada hora para não perder a concentração.

Há um ano que trabalha para HALO Trust. O dinheiro faz parte de suas motivações: mil euros (cerca de 6.400 reais) por mês após um treinamento de 21 dias, o mesmo que um médico no início de sua carreira.

Apesar do peso do colete à prova de balas e do capacete desconfortável com viseira, a jovem de 36 anos termina seus dias muito menos cansada do que em seu trabalho anterior como cabeleireira, no qual ela detestava ficar em pé e conversar com as clientes.

"Antes cortava cabelo, agora grama", resume.

O governo espera limpar 80% do território até 2033, apesar dos problemas de coordenação, financiamento e, possivelmente, corrupção.

"Vi contratos por vários milhões que não faziam sentido algum. Então, claramente há subornos", opina um especialista estrangeiro, que pede anonimato.

- Drones e IA -

Mas a Ucrânia também é o cenário "das inovações mais importantes em matéria de desminagem nos últimos vinte ou trinta anos", segundo Pete Smith.

Assim como no front, os drones estão revolucionando a desminagem.

"São incrivelmente úteis. Podemos inspecionar áreas inacessíveis devido às minas e depois entregar as imagens aos nossos analistas", destaca Sam Rowlands, também da HALO Trust.

A ONG utiliza 80 drones na Ucrânia para localizar as minas e guiar as escavadeiras em tempo real.

As imagens enviadas para o quartel-general permitem mapear sua localização e treinar a inteligência artificial para identificar os diferentes tipos de minas.

Perto de Kiev, o jovem analista da dados Volodimr Sidoruk transfere assim seus conhecimentos ao algoritmo da empresa parceira Amazon Web Services.

Este "aprendizado automático" ainda está em processo, mas "a taxa de precisão é de aproximadamente 70%, o que não é nada mau", celebra.

Uma vez aperfeiçoada, a inteligência artificial aumentará a eficácia dos drones.

"Um dia veremos robôs desminadores que trabalharão 23 horas por dia, sem risco para a vida humana. Em cinco ou dez anos, tudo será muito mais automatizado, graças ao que está acontecendo hoje na Ucrânia", prevê Heslop.

G.Tsang--ThChM