The China Mail - Holocausto cigano: um genocídio esquecido

USD -
AED 3.672502
AFN 69.456103
ALL 84.764831
AMD 381.290295
ANG 1.789623
AOA 916.000262
ARS 1179.376574
AUD 1.538935
AWG 1.8025
AZN 1.710262
BAM 1.692527
BBD 2.010212
BDT 121.665008
BGN 1.696633
BHD 0.375579
BIF 2964.389252
BMD 1
BND 1.278698
BOB 6.879841
BRL 5.543901
BSD 0.99563
BTN 85.673489
BWP 13.382372
BYN 3.258189
BYR 19600
BZD 1.999913
CAD 1.35865
CDF 2877.000388
CHF 0.812438
CLF 0.024131
CLP 926.026567
CNY 7.181603
CNH 7.186225
COP 4135.519882
CRC 501.838951
CUC 1
CUP 26.5
CVE 95.422093
CZK 21.500898
DJF 177.292199
DKK 6.456967
DOP 58.803167
DZD 130.034183
EGP 49.707931
ERN 15
ETB 134.317771
EUR 0.8654
FJD 2.24825
FKP 0.736781
GBP 0.737708
GEL 2.739766
GGP 0.736781
GHS 10.254857
GIP 0.736781
GMD 70.496392
GNF 8627.060707
GTQ 7.650902
GYD 208.299078
HKD 7.8495
HNL 25.985029
HRK 6.522702
HTG 130.569859
HUF 348.504964
IDR 16299.3
ILS 3.620403
IMP 0.736781
INR 86.184499
IQD 1304.227424
IRR 42100.00023
ISK 124.649702
JEP 0.736781
JMD 159.404613
JOD 0.708994
JPY 144.009009
KES 128.631388
KGS 87.449698
KHR 3992.038423
KMF 426.495888
KPW 899.999993
KRW 1367.139874
KWD 0.30622
KYD 0.829648
KZT 510.665917
LAK 21481.545584
LBP 89206.525031
LKR 298.109126
LRD 199.125957
LSL 17.917528
LTL 2.95274
LVL 0.60489
LYD 5.439834
MAD 9.103111
MDL 17.04989
MGA 4495.694691
MKD 53.251698
MMK 2099.702644
MNT 3581.705956
MOP 8.049154
MRU 39.525767
MUR 45.509935
MVR 15.405027
MWK 1726.364069
MXN 18.95075
MYR 4.245497
MZN 63.949739
NAD 17.917528
NGN 1542.439881
NIO 36.640561
NOK 9.912797
NPR 137.077582
NZD 1.662455
OMR 0.384259
PAB 0.99563
PEN 3.593613
PGK 4.159058
PHP 56.090077
PKR 282.254944
PLN 3.698316
PYG 7944.268963
QAR 3.631864
RON 4.3505
RSD 101.423565
RUB 79.779066
RWF 1437.670373
SAR 3.753593
SBD 8.347391
SCR 14.209988
SDG 600.493657
SEK 9.483995
SGD 1.2819
SHP 0.785843
SLE 22.050187
SLL 20969.503664
SOS 568.99312
SRD 37.527968
STD 20697.981008
SVC 8.711869
SYP 13001.852669
SZL 17.905759
THB 32.405026
TJS 10.055644
TMT 3.5
TND 2.945956
TOP 2.342104
TRY 39.40328
TTD 6.751763
TWD 29.51963
TZS 2573.66622
UAH 41.29791
UGX 3587.901865
UYU 40.932889
UZS 12650.253126
VES 102.167027
VND 26075
VUV 119.102168
WST 2.619186
XAF 567.657825
XAG 0.027532
XAU 0.000291
XCD 2.702549
XDR 0.705984
XOF 567.657825
XPF 103.206265
YER 243.350116
ZAR 17.989335
ZMK 9001.150609
ZMW 24.069058
ZWL 321.999592
Holocausto cigano: um genocídio esquecido
Holocausto cigano: um genocídio esquecido / foto: © AFP

Holocausto cigano: um genocídio esquecido

Z de "Zigeuner" ("cigano") e um número. Alguns sobreviventes ainda carregam o horror do Holocausto cigano tatuado na pele, uma lembrança de um genocídio esquecido que os historiadores tentam documentar.

Tamanho do texto:

Rosa Schneeberger é uma das últimas "sinti", uma comunidade nômade que vagueia pelo oeste da Europa desde os tempos medievais.

Ela tinha apenas cinco anos quando foi deportada com sua mãe e irmãos para o maior campo de concentração cigano, Lackenbach, construído em 1940 pelos nazistas na Áustria anexada, onde famílias inteiras eram submetidas a trabalhos forçados.

Aos 88 anos, Schneeberger, de nacionalidade austríaca, relembra com dor as memórias que ficaram enterradas em sua mente por décadas.

Na sala de estar de sua casa, na cidade austríaca de Villach, repleta de fotos de seus quatro filhos, seus dez netos e seus dois bisnetos, Rosa conta à AFP o que lembra dessa infância dolorosa.

"Só parava de sentir fome quando roubava a comida dos cavalos", conta. "Eles os alimentavam melhor do que a nós."

Em Lackenbach, crianças eram forçadas a carregar pedras, enquanto adultos trabalhavam na floresta, na construção de estradas ou em outras obras públicas.

Os mais velhos e os mais pobres caíam exaustos nas latrinas, ela lembra. "Os nazistas retiravam seus corpos congelados no início da manhã."

Seu amado avô morreu doente diante de seus olhos.

Apenas 10% dos 11.000 ciganos e sintis austríacos sobreviveram às atrocidades nazistas. Cerca de 4.000 foram enviados para Lackenbach, dos quais 237 morreram de doenças, frio e espancamentos.

Muitos foram enviados para campos de extermínio na Polônia ocupada, como Chelmno ou Auschwitz, que foi libertado pelo exército soviético há 80 anos, em 27 de janeiro de 1945.

Schneeberger sobreviveu até a libertação de Lackenbach em março de 1945 porque seu pai, como muitos em sua comunidade, tocava um instrumento e entretinha os guardas.

- Cerca de 200.000 mortos -

Os historiadores não sabem quantos outros sofreram o mesmo destino. A alemã Karola Fings, da Universidade de Heidelberg, está atualmente compilando a primeira enciclopédia sobre o assunto.

"Em muitos países, ainda não entendemos o alcance" da perseguição, afirma.

Na Estônia, por exemplo, a comunidade foi praticamente extinta e o dialeto que eles falavam não existe mais.

Países como Bélgica, Países Baixos e Croácia foram particularmente afetados. Em outros, como França, Bulgária e Romênia, muitos sobreviveram.

Mas não há dados pré-guerra sobre a dimensão da população romani. Atualmente, estima-se que haja 12 milhões de pessoas, de origens culturais muito diversas. Entre elas estão centenas de sobreviventes do Holocausto.

"Se combinarmos os dados daqueles que sabemos com certeza que eram sinti e romani, podemos dizer que houve entre 110.000 e 120.000 mortos", afirma a historiadora Fings.

"Mas há um grande número de casos não relatados", acrescenta. "A hipótese que mais ou menos prevalece na pesquisa é que podemos falar de cerca de 200 mil mortos."

Os crimes cometidos só foram documentados no Terceiro Reich, onde a primeira captura de ciganos ocorreu, em junho de 1938.

No entanto, todas as evidências foram destruídas no final da guerra e os "carrascos" reintegrados à sociedade alemã "continuaram estigmatizando as vítimas ciganas como antissociais e criminosas", explica Fings.

Internacionalmente, a pesquisa só progrediu nos últimos 20 anos, quando já era tarde demais para coletar o depoimento de muitos deportados, que os nazistas identificavam com um triângulo preto ou marrom, dependendo do campo.

A francesa Henriette Asseo, especialista na história do povo cigano na Europa, considera "atroz" que, depois da guerra, os sobreviventes não tenham sido considerados "vítimas raciais" nem na Alemanha nem em outros países da Europa central.

De fato, na Alemanha, as vítimas que escaparam não tiveram sua antiga nacionalidade restaurada. "Fizeram de tudo para excluí-los das indenizações", afirma Asseo.

E isso apesar do fato de que, desde 1935, as Leis de Nuremberg — as leis raciais sobre cidadania no Terceiro Reich e "proteção do sangue alemão" — estabeleceram que "os ciganos pertencem às raças impuras".

- Discriminação -

O reconhecimento do genocídio cigano só começou a surgir na década de 1980, graças à mobilização de ativistas nascidos depois da guerra, que estavam dispostos a "reconquistar o passado" quando o comunismo caiu e a democracia se consolidou, explica Asseo.

Mas foi somente em 2015 que o dia 2 de agosto foi estabelecido como o "Dia Europeu em Memória do Holocausto Cigano".

Em dezembro de 2024, a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) publicou recomendações para aprender com essa "história ignorada".

No entanto, em muitos casos, a passagem do tempo enterrou as memórias. Na Tchecoslováquia comunista, uma fazenda industrial suína foi construída onde ficava o campo de Lety, localizado ao sudoeste de Praga.

Entre 1942 e 1943, cerca de 1.300 ciganos foram internados em condições horríveis nesse lugar. Pelo menos 300 pessoas morreram, muitas delas com menos de 14 anos, embora os sobreviventes digam que o número subestima o que aconteceu.

Após 20 anos de campanhas e pressões, o governo tcheco comprou a fazenda em 2018 para demoli-la e erguer um memorial. Foi inaugurado em abril do ano passado, quando o último sobrevivente do campo já havia morrido.

Jana Horvathova, uma tcheca descendente desses sobreviventes, foi uma das ativistas que pediram a abertura do memorial.

"Segundo pesquisas, pelo menos 75% da opinião pública ainda é influenciada por preconceitos contra os ciganos, o que implica falta de interesse no assunto", afirma.

Anna Miscova, historiadora tcheca responsável pela exposição permanente no local, também atribui à discriminação as dificuldades em esclarecer o massacre dessa comunidade.

"Algumas pessoas não queriam falar porque escondiam o fato de serem ciganos", explica.

- "Tudo acabou" -

A memória nem sequer foi transmitida dentro das famílias. Muitos sobreviventes se casaram com parceiros não ciganos e pararam de falar sua língua de infância, o romani.

É o caso de Christine Gaal, nascida em 1949. Para passar despercebidos, seus pais mudaram inclusive seu sobrenome Sarkozy, muito comum entre os ciganos.

Em sua casa de repouso em Viena, ninguém sabe de seu passado. "Se soubessem que eu era (cigana), os aposentados não seriam tão gentis comigo", diz ela.

Seus filhos não se sentem ciganos nem conhecem seus costumes. Não sabem tocar o címbalo, um instrumento popular com cordas de metal tocado por muitos músicos dessa comunidade.

A mãe de Gaal, que teve 13 filhos, foi a única a retornar do campo de concentração de Ravensbruck. Seu pai perdeu sete irmãos e irmãs.

"As viagens, os músicos nas pousadas, os empregos que tínhamos como comerciantes de cavalos, tudo isso acabou", lamenta a filha de Schneeberger, Gina Bohoni, de 64 anos.

"Os sinti estão desaparecendo", acrescenta.

Enquanto Gina relembra os insultos que sofreu na escola, sua sobrinha de 27 anos escuta em silêncio, tomando consciência de seu legado.

No entanto, ela prefere não revelar seu nome. Se seu chefe descobrisse que ela é cigana, ela diz, seria um desastre.

A.Kwok--ThChM